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FEITOS UM PARA O OUTRO

Tão incomum quanto o nome dela, a cidade, era o nome dele, seu morador.

Mas isso era inofensivo. Detalhe bobo.

A relação entre ele e a cidade não devia ser fechada nessa equação rasa.

Porque ele e a cidade, apesar da estranheza do nome de ambos, pareciam ter sido feitos um para o outro.

Como os adolescentes ao viver o primeiro amor.

Ele não precisava mais do que aquilo.

Um espaço.

Verde, na roça.

Como eram bonitas suas plantações. A horta, então, nem se fala.

Tudo fresquinho e de cor intensa.

Era ali que ele passava os dias.

Engrossando os nós dos dedos.

Sujando as unhas para enfiar na terra mais uma semente.

A vida ao ar livre. Liberdade plena e pura.

Para ser o que quisesse.

E ele não queria muito.

A casa já desgastada pelo tempo, com seus tijolos agora aparentes pela falta de reboco e pintura, era muito já. Dava glórias por ela.

Ali resumia a vida. Era o teto. O lugar para onde voltar. A acolhida.

As paredes, que não viam tinta nova há décadas, eram coloridas pelas fotografias dos mais antigos.

Abrandavam seu coração.

Sabia de onde vinha. Podia ir para qualquer lugar.

Estava pronto para ir.

Sem temores.

Não sei antes amar profundamente o que amava.

Pouca coisa.

Gostava de animais.

Era quase um, de tão livre e solto.

De tão inocente.

De tão dado.

Podia ser aquele cachorro, para quem sorria diariamente, ao acariciar os pelos.

Podia ser aquele pássaro com quem cantava junto.

Podia ser soprado ou esparramado pelo vento manso e, tal encantado, se misturaria às partes que formavam aquele pedaço de chão.

Podia ser São Francisco de Assis.

Podia ser o poeta Manoel de Barros.

Mas não era nenhum dos dois.

Era apenas ele mesmo.

Mais brando ou mais intenso de acordo com a hora do dia. Ou do lugar em que se recostava para espiar e esperar a vida passar.

Podia ser sentado no tronco da velha árvore. Podia ser sob as folhas ausentes daqueles galhos.

Podia ser debruçado na janela.

Não se esperasse mais dele, pois não havia.

Era claro como a água da nascente que jorrava ali perto.

Era tão tranquilo como aquele céu azul.

Era tão terno como a luz do sol ao nascer.

Era tão intenso quanto o meio dia.

Observá-lo trazia calmaria. E confiança na vida.

Ouvi-lo falar era aprender coisas de todos os mundos.

Era, sobretudo, aprender a silenciar.

Para ouvi-lo falar.

Aqueles passos firmes, mesmo que já cansados, já pisaram em tudo por aquelas bandas. Menos em ovos.

Não era dele ser dado a lenga-lengas.

Era um sábio.

Conselheiro de quem o buscasse.

Doador de palavras imprescindíveis.

De todas as faltas que pudesse haver, porque ele também era humano, a menos importante era ser chamado por um nome incomum. Como sua cidade.

Porque ele e a cidade, apesar da estranheza do nome de ambos, pareciam ter sido feitos um para o outro.

Quirinópolis....

Wilibaldo...

Foto: Janine Moraes

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