VAMOS FALAR SOBRE A DOR DAS CRIANÇAS
18 de maio. Hoje é Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. É um dia em que sinto dor. A dor de todas as crianças que são vítimas desse crime.
A dor de todas as crianças que, comumente dentro de casa ou outros espaços privados, são invadidas, maculadas e destruídas na sua inocência e no seu direito a ser protegidas.
A dor de todas as crianças que carregarão para a vida o fato de terem sido usadas por adultos inescrupulosos – bandidos que se escondem na fantasia de amigos, parentes, tios, padrinhos, padrastos, pais, mães – para usar de seu poder e abusar da fragilidade de um corpo e de uma subjetividade em formação.
A dor da criança cuja história originou a data. Araceli. Neste dia, em 1973, a menina de 8 anos, de Vitória (ES), foi sequestrada, violentada e cruelmente assassinada. Seu corpo apareceu seis dias depois, carbonizado. Seus agressores nunca foram punidos.
A dor de saber que, em muitos casos, as crianças sofrem por longos períodos – coagidas por seus algozes ou silenciadas pela incapacidade de compreender o que acontece com elas.
A dor de saber que muitas vezes os adultos responsáveis pelas crianças são coniventes, cúmplices ou lucram de alguma forma com a situação. E fingem que ela não existe.
A dor de saber que um caso assim fere e fragiliza não apenas a vítima, mas as pessoas que comungam com ela dessa dor.
A dor de saber que a justiça e a rede de proteção institucional nem sempre estão prontas para acolher as denúncias e encaminhá-las de forma correta e justa.
A dor de saber da lentidão em que os casos “correm” no âmbito do judiciário.
A dor de saber que, segundo os jornais do dia, de janeiro a abril deste ano, do total de 274 vítimas de estupro no Distrito Federal, 158 são crianças e adolescentes — o que corresponde a 58% dos casos e à média de mais de um ataque sexual por dia. No mesmo período do ano passado, 232 pessoas sofreram a violência. Dessas, 149 tinham até 17 anos, o equivalente a 64%.
A dor de saber que segundo as instituições que se dedicam a abraçar a causa, a violência costuma ser praticada por pessoas da família ou próximas da família na maioria dos casos. O abusador muitas vezes manipula emocionalmente a criança, que não percebe estar sendo vítima e, com isso, costuma ganhar a confiança fazendo com que ela se cale.
Ainda de acordo com elas, a criança e o adolescente sempre avisam, mas na maioria das vezes não de forma verbal. E em quase todos os casos a vítima tenta se manifestar da sua própria maneira. “Faça com que eles se sintam ouvidos e acolhidos, sem questionamentos”, alertam.
Entre as tantas dores, um alento: Existem muitas organizações voltadas a alertar sobre essa realidade. E a instruir as pessoas a instruir-se e a instruir as crianças sobre como lidar com casos de abusos. Evitá-los. Denunciá-los.
Para isso, é preciso que tenhamos ouvidos atentos e alertas.
Uma das bandeiras do ‘18 de Maio’ é a importância de se refletir sobre o assunto e tirar o tema da invisibilidade.
Não falar sobre, diz a organização Childhood, também é uma forma de não reconhecer que o problema existe. Não calar diante de uma situação de violência sexual contra crianças e adolescentes pode contribuir com que sejam protegidas.